quarta-feira, 24 de junho de 2009

F.C.Diniz

Fernando Campos Diniz nasceu no ano de 1930. Seu pai Acriano, sua mãe Cearense, tiveram um filho em Belém do Grão Pará. Durante seus anos escolares nunca foi o melhor aluno porém longe do pior. Sempre gostou de saber, não importa o que iria saber, mas gostava de coisas novas.

Nunca foi de falar, entretanto sentiu no maior âmbito desta palavra. Se dedicou as palavras, as escritas, trabalhou na empresa telefônica da cidade por anos, concursado da antiga TelePará, nunca se destacou no trabalho, mas também nunca cometeu erros. No geral assim foi sua vida, nunca uma estrela tampouco esteve no fundo.

O velho Fernando sempre amou as crianças, os jovens, sempre gostou de uma conversa mansa, um papo furado na esquina sentado à porta de sua casa. Aos 79 anos continua por escrever, mas não mais sobre novas coisas, como ele mesmo diz já viveu o que queria, prefere se dedicar à suas memórias que sempre lhe arrancam lágrimas e sorrisos esguios.

O que ele me ensinou foi amar, amar de verdade até o fim do sentimento, até o fim do amor. A compaixão, a ser feliz e se amar, porém, se amar sem egoísmo. Lendo seus diário me encontro, ou ao menos vejo algo que um dia posso ser. Não sei em que ponto nos 58 anos que nos separam, nos encontramos, mas o tenho como amigo, como uma metade que aprende e ensino a cada dia novo que nos resta. Eu ainda tentando viver muito ele me contando como foi viver muito.

Caro Sr. Fernando Campos Diniz, agradeço as tardes de conversa fiada, de café com leite, biscoitos, bolo solado e vida após vida confessada.


terça-feira, 23 de junho de 2009

20 Jun. 1951

Lembro das viagens com amigos. Das noites de risadas. Nos balneários de minha infância e juventude. Da falta de problema, da vida sem rancor. Das besteiras e fidelidade. Aos amigos que já se foram e aos grandes que me restam. Cigarros e bebidas, comidinhas com amor donde na verdade era mais que sabor.

Este poema foi feito há anos, não lembro-me muito porque o decidi escrever, mas quando jovem sempre gostei de escrever, pensei sempre em levar isto como lavoro, porém nunca achei que conseguiria. Na ditos anos de juventude, digo 'dito', porque sempre me sentirei jovem, enfim, eu adoro estar com amigos e sempre gostei de escrever para homenagear tais momentos. Este pequeno poema foi feito para uma destas pequenas viagens, achei-o por dentre papéis envelhecidos dentro de velhas caixas de sapato, do tempo em que ainda os usava.

No reflexo bandeirante da luz,
Risadas no quintal ofuscam atenção.

Os vultor reais de tantos amigos,
Na casa de tantas memórias e saudades.

No rio terreno de apenas som,
Junto a ceia dos verdadeiros.

Entre os estalos dos bambus,
Nos ecos "espassados" nos corredores,
As retas da mansão colorida.

Diários de Fernando Campos Diniz

segunda-feira, 15 de junho de 2009

06 Set. 1962

"- Não. Não é assim. Você tem que virar direito pro sol refletir e assim a luz começar a queimar.

- Fernando onde aprendes isso? Em minha juventude nós seríamos presos por estar aprendendo isso, hahahaha.

- Seu Otávio, hahaha, isso é tudo normal, é apenas a luz do Sol."

Lembro-me de Seu Otávio. A transparência de um copo d'água. A honestidade de uma criança, talvez por isso tenhamos nos dado tão bem. Ele era porteiro, faxineiro, faz tudo do velho cortiço onde passei a primeira infância.

Seu Otávio que tanto me ensinou sobre o ser humano, sobre ser íntegro, sobre como cuidar de uma casa. E eu em troca lhe ensinei a brincar, a sorrir, a ser feliz, o que acredito eu, ele me ensinou primeiro sem saber. Infância sofrida, sem ter estudado, apenas trabalhado desde os seus cinco anos, quando o conheci, aos 60, já tinha as marcas da vida no rosto, nas mãos, mas mesmo assim ainda existia por trás das rugas lugar para um sorriso, uma lágrima.

Nunca casou, nunca teve filhos, porém sempre falou, sem muitos detalhes, de uma Sra. Glória, algo que consegui descobri durante os anos de conversas é que ela era mais nova, trabalhadora também, mas se encantou por um jovem, estudante de engenharia e Seu Otávio ficou sem amores até meu conhecimento.

Sua sabedoria de cidadão regular sempre me fascinou, de todas suas frases a que mais recordo é quando me disse: "todos os problemas do mundo são gerados por dinheiro, ele é o grande destruidor da paz". Eu tinha meus oito anos de idade e nunca me esqueci desta frase, de um homem comum, sem egoísmo, sem escolaridade, entretanto nunca eu conseguiria tal perfeita afirmação.

Em contra partida nunca esquecerei quando mostrei que era possível queimar papel apenas com uma lupa e a luz do Sol. Seu Otávio ria como uma criança, parecia mágica a seus olhos, estava assombrado, espantado. Ver aquela alegria de um velho camarada era uma fascínio enorme, quanta alegria nos olhos. Amo as crianças por isso, um dia fui uma delas e hoje quero e procuro ser como Seu Otávio para estas que me rodeiam as pernas.

Diários de Fernando Campos Diniz.

terça-feira, 9 de junho de 2009

22 Ago.1958

O amor nunca é. Ele é sempre a esperança de para sempre ser. Morada na esperança, com um pé no realismo e outro na duvida do amanhã nublado.

Meu amor, neste ano de tantas confusões te escrevo para contar que o meu amor, vive no seu amor, na sua esperança, se tenho um pé na realidade, tenho o outro no chão do seu quarto esperando você entrar. Enquanto os dias passam sem nos vermos, as noites frias no cobrem de sentimentos saudosistas, para um manto de veludo está o nosso amor inverno primaveril. Nas costas desta distância, não vejo problemas entre nós, o amor está querendo ser e vencendo as dificuldades. Um amor imaculado no limbo dos sentimentos raros em poucos e tantos.

Sinto sua falta nas coisas mais simples do meu dia, como o barulho da louça do café da manhã, o som de passos no quarto, minutos antes de você vir me acordar, aonde eu fingia um sono gostoso somente para ser acordado com o gosto da manhã de seus beijos. O coçar das costas, a maciez de seus pés nas noites de jornal, massagens, café e conversas. Te encontrei dentre todas as esquinas do mundo na minha.

Nas noites de cortejo te amei mais que a vida, as estrelas nos seus olhos, a lua de seu peito, o reflexo da vida perfeita a partir daquele dia. Te amo mais que meu destino, cego pelo futuro incerto, ofuscado por incertezas certas que serei feliz ao seu lado hoje e sempre. Pois o presente nada mais faz parte que a transição eterna, não existe o agora, ou é passado ou caminhamos para o futuro. O presente é um pavil que corre até o explodir da bomba vida, e como inevitavel será chegar ao fim, prefiro caminhar de mãos dandas neste pavil, que se faz de corda bamba. Cair, voltar. Caminhar até o final.

Eu te adorarei como minha musa e deusa; te amarei como a mulher de minha vida. Nas esquinas, nos cortejos, nos cigarros, nas bebidas, nos amores, nas conversas e tanto nos silêncios.

Fique com você, comigo, conosco para vida.
Seu eterno e amado,

Fernando Campos Diniz.

domingo, 7 de junho de 2009

Realismo saturnino

A estrada é menos tortuosa que sua representação.

Nadar sobre a Lua do lago.
Pisar nas estrelas no chão da velha casa.

Tudo parecia correto nas curvas sintuosas e chão irregular da vida.
Ele viveu, vive e continuará nesta tendência.

Lembra da sacada grande? Aquela onde todos sorriam e cantavam?
Não, mas bem que eu gostaria. Assombrações de uma vida postúma sempre tocam meus sonhos de plenitude.

Não medo das assombrações em si, mas sim do que elas lembraram. E da correnteza que parece tentar me arrastar para um lugar que já fui e não quero mais voltar. Sabe? Daqules ambientes onde você já esteve, conheçe tudo muito bem, contudo não pretende voltar.

Correnteza por mais forte que seja, peito de remador e braço de nadador me trarão de volta à margem segura, do píer sem luxo, sem beleza exuberante. Apenas firme como rocha, sem fissuras irreparáveis.

Rachaduras, marcas, prefiro ver como lapidação de um novo eu, até a beleza de uma pedra rara, cuidadosamente trabalhada pelo ourives do nosso destino, que somos nós mesmo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Cobertura

Existem lugares onde todos querem ir e por isso o ambiente fica constragedor. Muitas pessoas, mesmos objetivos e pouca definição de quem vai e quem fica.

Um elevador lotado para uma cobertura onde não há vagas para todos.

Subir de escada, com um cigarro na mão, um sorriso no rosto e a certeza de que quando este elevador super lotar eu não estarei espremido no canto, tão pouco correrei o risco de cair com todos eles no poço. Posso até nunca chegar nesta cobertura, mas do térreo até lá farei bons amigos e ganharei saúde. 

Só não quero incomodar os vizinhos, que nada tem a ver com o elevador, menos ainda comigo, que ando de escada. São amigos que apoiam, dão cigarros, cerveja, apoio moral.

Elevador é rápido, só um botão. Eu continuo subindo, devagar e sempre e sei que estou bem aonde estou, nem com pressa nem sem cuidado, vivendo e curtindo cada andar como se fosse o melhor. Um degrau de cada vez.